top of page
  • Instagram

As pessoas ricas seguem podendo escolher; para as pobres, resta a prisão ou a morte.

  • Maria Clara Ferreira da Silva
  • Sep 28
  • 5 min read

Aborto legal, por uma questão de classe!!!



Nas ruas pelo aborto legal, seguro e gratuito! 28S em São Paulo
Nas ruas pelo aborto legal, seguro e gratuito! 28S em São Paulo

Quatro em cada cinco pessoas denunciadas por aborto foram condenadas pela "justiça" brasileira. A data de hoje relembra todas as vidas perdidas, atravessadas e aprisionadas por uma criminalização que em nada afeta a vida de quem vive em condições abastadas. A luta por justiça reprodutiva escancara uma sociedade desigual — por gênero, raça e classe — na escolha e autonomia sobre os rumos de suas vidas e de seus corpos.


Por todas elas estamos nas ruas. Somos o país com a 5ª maior taxa de feminicídio no mundo. Temos 57 meninas e crianças, de 10 a 14 anos, dando à luz todos os dias no país. Registramos um estupro a cada 6 minutos, sendo quase 80% dos casos contra pessoas vulneráveis, e 55% contra meninas negras de até 13 anos. Esses dados reafirmam que vivemos em um país marcado por violência de gênero, racismo e desigualdade.


Todos os dias lidamos com o desespero nos olhares de mulheres, crianças e pessoas que gestam diante de uma gravidez indesejada, pelas mais diversas razões — e nem mesmo nos casos previstos em lei esse direito é assegurado. A agonia de não poder decidir com tranquilidade e segurança é generalizada, mas afeta principalmente as mais pobres, que não têm como pagar por um procedimento seguro.


Em meio às dificuldades para garantir o acesso ao aborto legal, ainda enfrentamos a disputa com a extrema-direita e os fundamentalistas, que usam essa pauta como moeda de troca para acordos políticos, espalham pânico moral e promovem perseguição política contra trabalhadores da rede pública de saúde. Isso, somado ao sucateamento dos serviços públicos — agravado pelo novo arcabouço fiscal que atinge o SUS, a educação e a assistência social —, aumenta ainda mais as barreiras ao exercício desse direito.


Vivemos sob a criminalização legal e social do aborto — mesmo quando previsto em lei. Trata-se de uma luta dupla, e apenas a descriminalização ampla do aborto em todas as circunstâncias poderá garantir o direito de escolher para todas.


A alta repercussão nas redes sociais sobre a "adultização infantil" deveria reverberar na proteção ao direito ao aborto em todos os casos de violência, mas essas ainda não são conclusões automáticas da sociedade. No entanto, seguimos em uma luta que cresce e ganha novas mentes e consciências contra o machismo, o racismo, o patriarcado e o sistema capitalista que lucra com isso.


Não somos poucas. O freio imposto ao PL 1904, em 2024, foi uma vitória importante, que ecoou em nossa palavra de ordem: "Criança não é mãe" — um apelo desesperado por garantir o óbvio: a maternidade deve ser uma escolha, não uma imposição. Infelizmente, projetos como esse continuam surgindo. Recentemente, o PDL 3/2025, conhecido como "PDL da Crueldade", ameaça entrar em pauta para votação em regime de urgência. Ele visa sustar a resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que estabelece regras de acesso e atendimento ao aborto legal para crianças e adolescentes.


Projetos de retrocesso também avançam em estados e municípios. Em São Paulo, além do fechamento do serviço de aborto legal no Hospital Cachoeirinha desde 2023, o novo PL 69/2025 trata a escolha de interromper a gestação como um fator traumático — quando, na verdade, o que mais traumatiza é a criminalização do aborto e as barreiras misóginas e burocráticas para acessá-lo. Em Pernambuco, o PL 921/2023, que atacava o direito ao debate de gênero e sexualidade por meio do chamado "veto parental", foi derrotado na Comissão de Constituição, Legislação e Justiça graças à mobilização social. No Rio de Janeiro e em Vitória (ES), tramitam projetos de lei que obrigam a veiculação de propagandas enganosas sobre supostas consequências do aborto.


Apenas com denúncia e mobilização constante temos conseguido barrar esses retrocessos nos âmbitos municipal, estadual e federal. No entanto, nossa história poderia ser diferente se o governo federal, em vez de tentar barrar a Resolução 258 do CONANDA, tivesse recriado a norma técnica de humanização do aborto. Ou se o STF, que condenou Jair Bolsonaro, tivesse também aprovado a ADPF 442, que descriminaliza o aborto até a 12ª semana de gestação.


A luta histórica dos movimentos feministas pelo aborto legal, seguro e gratuito na América Latina e no mundo mostrou que nenhuma conquista foi dada de forma automática por qualquer governo. Todas vieram com muita luta.


Por isso, sejamos nós a construção de um movimento crescente, democrático e independente de governos e patrões, que possamos ocupar as ruas até a vitória! Nesse dia escuto um só grito, aborto legal, seguro e gratuito!


Ventre e Palestina, LIVRE JÁ!


O 28 de setembro chega e os desafios para uma vitória da luta são cada vez maiores. O mundo em crise e nossas vidas em jogo, descartáveis para um sistema apodrecido desde sua concepção. Não é possível estar nas ruas hoje sem escancarar o genocídio do povo palestino, cometido por todos os poderosos que permitiram essa atrociade se estender por décadas e mais contundentemente nos últimos dois anos como também está acontecendo no Sudão e na República Democrática do Congo. 


Em mundo em crise, a polarização com a extrema-direita oferece no racismo e sexismo visões ideológicas de um inimigo para todas as mazelas. O que é o projeto de expansão da invasão das terras palestinas senão a união do racismo com um projeto mercantil, de comercialização dessas terras, uma ideia de lucro em cima de vidas desumanizadas pelo racismo. Esse enredo nosso país conhece bem, até hoje a mão de obra mais barata é a negra e indígena, especialmente das mulheres e até crianças. Como avisava Malcon X “não há capitalismo sem racismo”. 


O sistema capitalista e suas democracias burguesas permitem e andam junto com a extrema direita fascistoide no mundo todo porque há necessidade  de que se criem outros inimigos, para que não haja revolta contra a elite mundial que mantém a desigualdade, para que se justifiquem guerras, invasões, falsas “missões de paz” e com isso continue se expandindo o seu mercado.


Quem paga o preço somos nós, mulheres, lgbtia+, pessoas negras, indígenas, migrantes, trabalhadores do mundo todo que mantém a engrenagem do sistema de produção e reprodução social. O aumento da violência junto ao aumento da indústria bélica, não está desconectado da onda transfóbica  xenófoba que assola o mundo. Eles precisam controlar nossa produção e reprodução, tudo para o lucro dos de cima. 


Com muita hipocrisia, a direita, os fundamentalistas, a extrema-direita dizem que querem proteger a suposta vida do feto de uma gestação não desejada mas não protegem a vida de fato das crianças negras das periferias, das crianças indígenas na terras em conflitos com garimpeiros e ruralistas, das crianças palestinas que somam mais de 380 mil mortes com idade de menos de cinco anos. A maternidade não é uma escolha para a classe de quem sofre genocídio étnico, policial, ou feminicídio de Estado. 


Nos inspiraramos com a resistência e luta que vemos ao redor do mundo, como as das mulheres no Quênia e na Índia lutando contra o feminicídio, nos países lutando pelo aborto legal, seguro e gratuito e pela resistencia das mulheres palestinas, lutando pela sobrevivência diante de um genocídio. Nos inspiramos com os movimentos pró palestinos ao redor do mundo e com iniciativas como a Flotilha Sumud Global, a caminho para Gaza neste momento para romper o bloqueio e levar ajuda humanitária. Também, nos inspiramos nas greves da classe trabalhadora contra o genocídio como a greve geral na Itália e a que está sendo organizada no estado espanhol! 


Para que nossa vida não seja descartável, temos que lutar por uma mudança em que nós decidamos os rumos da história e onde todas, todes e todos sejam livres!

Comments


Quero conhecer mais sobre o Projeto por uma Internacional Marxista Revolucionária 

© 2035 by On My Screen. Powered and secured by Wix

bottom of page