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A flotilha Sumud parte enquanto os governantes árabes enterram a cabeça na areia

  • Paul Moorhouse
  • Sep 11
  • 5 min read

– Artigo publicado originalmente em inglês pelo Projeto para uma Internacional Marxista Revolucionária a 3 de Setembro de 2025 e no site lutapelosocialismo.pt no 9 de Setembro de 2025 –



A flotilha Sumud partindo de Barcelona
A flotilha Sumud partindo de Barcelona

No momento em que este texto é escrito, mais de 50 barcos de todo o mundo estão a convergir para o Mediterrâneo Oriental com o objetivo de quebrar o bloqueio de fome imposto pelo Estado de apartheid israelita a Gaza. As tripulações voluntárias, provenientes de 44 países em seis continentes, incluem ativistas, artistas e académicos de renome, como Greta Thunberg, mas também muitos trabalhadores humanitários, marinheiros e profissionais de saúde. Dezenas de milhares de pessoas em todo o mundo inscreveram-se para apoiar e, se necessário, reforçar a Flotilha Sumud (em árabe, “resiliência”).


Flotilhas anteriores foram apreendidas de forma pirata pelo Estado israelita. Os voluntários são rotineiramente detidos, privados de sono, comida e água, sendo depois expulsos de Israel sem sequer porem os pés em Gaza. Dez voluntários de uma flotilha em 2010 foram mortos a tiro pela chamada Força de “Defesa” israelita. A Sumud espera esmagar a marinha israelita pela força do número e abrir brechas, ainda que pequenas mas significativas, no cerco e no genocídio.


Esta missão é ainda mais urgente agora que Israel lançou uma guerra terrestre para despovoar a Cidade de Gaza e Trump recrutou Tony Blair, um dos “mortos-vivos” dos crimes de guerra imperialistas, para aconselhar no processo de transformar o território numa apropriação colonial EUA/Israel.


A solidariedade tem de ser reforçada

Contudo, isso não será conseguido sem construir um movimento mundial em apoio à flotilha e à luta mais ampla contra o genocídio. Com o regresso às aulas nas universidades e faculdades do hemisfério norte no início de um novo ano académico, as campanhas nos campi não podem apenas retomar, mas sim intensificar-se a um novo nível.


O movimento BDS também deve ser reforçado e, através de manifestações de massas, os olhos do mundo devem manter-se focados, sem tréguas, na resposta de Netanyahu e do seu Estado gangster à flotilha (tendo sempre presente que o pior que faça dificilmente se comparará ao holocausto de bombardeamentos e fome que tem imposto ao povo de Gaza, dia após dia e noite após noite, há 23 meses).


Mas também é necessário expor o papel dos governantes reacionários dos Estados árabes que permitem, e até impõem, a opressão e a fome em Gaza e, cada vez mais, na Cisjordânia. Se os governantes militares do Egito abrissem a passagem de Rafah —considerada “a linha de vida de Gaza” antes de 7 de outubro— isso contribuiria muito mais para levantar o cerco do que qualquer ajuda que possa ser transportada por mar, mesmo em centenas de barcos. Do mesmo modo, a família real hachemita que governa a Jordânia mantém a sua hostilidade em relação às aspirações nacionais e revolucionárias dos palestinianos desde antes da expulsão da Organização de Libertação da Palestina da Jordânia, após o massacre de um quarto de milhão de refugiados e ativistas palestinianos pelo exército jordaniano em 1970-71.


Palestinianos traídos pelos governantes árabes

Fawaz Gerges, professor de Relações Internacionais na London School of Economics, resumiu a situação quando disse à NBC: “Onde estão os árabes? Os árabes estão a dormir. Os árabes não estão em lado nenhum. Os árabes —e estou a falar dos governantes árabes— enterraram a cabeça na areia.” O poder económico e o peso social das massas oprimidas da Jordânia, Egito e Península Arábica podem e devem ser mobilizados para a libertação da Palestina e das suas próprias sociedades.

Como explicou Gerges: “A Palestina ressoa profundamente no imaginário árabe; a Palestina lembra aos árabes a subserviência dos seus governos. A Palestina lembra aos árabes a hegemonia, a dominação e o colonialismo e imperialismo contínuos do Ocidente… Eu diria que Gaza, a tragédia de Gaza, a destruição de Gaza, pode realmente funcionar como uma bomba-relógio que implodirá a ordem política árabe a partir de dentro.”


Mas a destruição do Estado de Apartheid israelita não é apenas responsabilidade dos trabalhadores da Ásia Ocidental. É ainda mais responsabilidade dos trabalhadores das potências imperialistas que criaram, apoiaram e armaram Israel para defender o seu saque da região. A menos que as organizações operárias lutem pela libertação da Palestina, não serão capazes de lutar de forma eficaz pela verda

deira libertação dos seus próprios membros.


Estivadores ameaçam com ação

Falando num comício em Génova em despedida ao contingente italiano da flotilha, um dirigente da secção de Estivadores da Unione Sindacale di Base (USB) — uma federação sindical com um milhão de membros — advertiu:

“Se perdermos contacto com os nossos barcos, com os nossos camaradas – mesmo que seja apenas por 20 minutos – paralisaremos toda a Europa.”
“As nossas jovens e os nossos jovens têm de regressar sem um arranhão, e toda esta carga, que pertence ao povo e vai para o povo, tem de chegar ao seu destino, até à última caixa. Todos os anos saem desta região 13.000 a 14.000 contentores para Israel. Não sairá mais nem um único prego.”

Num comunicado, a USB acrescentou:

“Os trabalhadores podem desempenhar um papel decisivo… temos de estar prontos para reagir com todas as formas de luta ao nosso dispor. Como muitos de nós repetimos nestes dias, não podemos ficar parados a ver… Se bloquearem a flotilha, bloqueamos tudo!”

Esta não é uma ameaça vã. Uma greve de um dia marcada para os portos de Génova a 5 de agosto só foi suspensa quando a companhia chinesa Evergreen aceitou a exigência da USB de devolver um navio que transportava três contentores de equipamento militar com destino a Israel e que os trabalhadores estavam a “bloquear” para a Ásia Oriental. Os trabalhadores tinham-se mobilizado em torno da palavra de ordem “não trabalharemos para a guerra”, e a USB organizou uma assembleia internacional de estivadores contra a guerra, de dois dias, a 26 e 27 de setembro.

Necessidade de luta política

Construir um movimento operário eficaz contra a guerra significará, no entanto, que a base assuma uma luta política contra as burocracias de direita da maioria dos sindicatos, que se recusam a ir além dos limites impostos pelo sistema capitalista em crise e pelos Estados cada vez mais militaristas e autoritários que o sustentam. De facto, mesmo dirigentes sindicais nominalmente “de esquerda”, confrontados com a dura realidade do genocídio em Gaza, evitam a mobilização operária efetiva.

Assim, Sharon Graham, dirigente da Unite — o maior sindicato do Reino Unido — tem dado prioridade à “defesa” dos empregos dos membros nas indústrias de armamento, como a BAE Industries e a Lockheed Martin, que continuam a abastecer a máquina genocida de guerra. Numa carta enviada a dirigentes sindicais em março de 2024, Graham escreveu:

“A ‘primeira prioridade’ nas nossas prioridades é sempre a proteção e o avanço dos interesses dos nossos membros no trabalho […] A Unite não pode, nem nunca irá, advogar ou apoiar qualquer curso de ação que seja contrário a esse princípio.”

Foram dados passos significativos por delegados de base na conferência programática da Unite para reverter esta posição e comprometer o sindicato com a ação solidária. No entanto, um movimento mundial de solidariedade com a Palestina só poderá ser eficaz a longo prazo se estiver enraizado numa oposição consistente e consequente a todas as formas de opressão e exploração e na compreensão de que a sua erradicação duradoura exige o derrube revolucionário do capitalismo, do imperialismo e do colonialismo.



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