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Rumo a Gaza para quebrar o cerco: A Caravana da Esperança.

  • Yassine, PRMI Tunísia
  • Jun 14
  • 5 min read
A Caravana Soumoud, ou “Caravana da Perseverança” saindo de Tunísia
A Caravana Soumoud, ou “Caravana da Perseverança” saindo de Tunísia

Do Norte da África, a caravana Soumoud, ou “Caravana da Perseverança”  dirige-se atualmente para Rafah com o objetivo de quebrar o cerco a Gaza. Surge num contexto extremamente complexo, no meio do sofrimento contínuo do povo de Gaza.


Representa um acontecimento único — não apenas um gesto humanitário, mas uma resposta desafiante ao silêncio ensurdecedor e à cumplicidade constante dos governantes árabes perante o massacre implacável dos palestinianos. É uma mensagem de pressão, enviada pelas massas tunisinas e pela opinião pública mais ampla do Norte de África, dirigida aos decisores políticos dos governos árabes.


Desde o início, essa iniciativa assentou na continuação de uma série de mobilizações que eclodiram na região após o 7 de Outubro de 2023. Apesar de transportar apenas ajuda simbólica, como medicamentos, alimentos e vestuário, o seu principal objetivo é político: confrontar a colaboração dos Estados com o cerco a Gaza e contribuir para o fim da catástrofe em curso.


No momento em que este texto é redigido, a caravana encontra-se perto da fronteira ocidental do Egito, no lado líbio, a caminho da passagem de Rafah, para ajudar a romper o cerco liderado por Israel — mas também imposto pelo Egito —, especialmente perante a obstinação do governo sionista e o genocídio e limpeza étnica em curso.


Como começou a coordenação e preparação desta caravana? Quais são os seus objetivos?

Essa caravana integra o esforço internacional mais amplo conhecido como Marcha Global para Gaza, um apelo de solidariedade com o povo palestiniano — que é diariamente assassinado, faminto, cercado e brutalizado. Ainda mais grave é o silêncio, traição e permissividade das potências globais, que continuam a fornecer armas utilizadas para assassinar crianças e civis inocentes — cujo único “crime” é manterem-se fiéis à sua terra e ao direito de viver.


Poderíamos chamar a Caravana do Magrebe, dado que inclui um número significativo de participantes que partiram de Argel a 8 de junho. Foram recebidos com orgulho e entusiasmo na fronteira entre a Argélia e a Tunísia, e se juntaram à caravana tunisina no centro da capital antes de avançarem, nas primeiras horas de 9 de junho, em direção à fronteira entre a Tunísia e a Líbia.


Os preparativos começaram cerca de três semanas antes do seu lançamento — um período relativamente curto, mas suficiente para organizar toda a logística necessária, evitando atrasos. Para clarificar, e face à confusão atual sobre se a caravana poderá ou não entrar em território egípcio, o Comité Coordenador para a Ação Conjunta pela Libertação da Palestina apresentou oficialmente um pedido à embaixada egípcia na Tunísia para facilitar a passagem da caravana em direção a Rafah.

A ideia era simples: pessoas de diferentes origens decidiram participar nesta ação de solidariedade simbólica, atravessando a Líbia e o Egito para chegarem a Rafah até 15 de junho, juntando-se a outras caravanas e delegações solidárias vindas por terra, mar e ar.


Graças às redes sociais e à rápida disseminação da iniciativa, foi possível coordenar com ativistas e voluntários interessados. Como referido, ficou acordado esperar pela caravana argelina para se unirem à tunisina antes de seguir para a Líbia e, posteriormente, para o Egito — com a esperança de chegar à Gaza sitiada, quebrar o bloqueio e entregar ajuda humanitária: alimentos, água e medicamentos que estão há muito tempo retidos perto da fronteira.


Desde o início da manhã de 9 de junho, a caravana tem recebido um apoio público massivo em vários pontos de encontro na Tunísia. De acordo com estatísticas do Comitê de Coordenação para a Defesa da Palestina, mais de 1.500 pessoas participam — muitos deles destacados ativistas de sindicatos e organizações de direitos humanos, como a União Geral dos Trabalhadores Tunisinos (UGTT), a União Geral dos Estudantes Tunisinos (UGET), a Ordem dos Advogados e outros.


A caravana inclui também médicos e pessoal de saúde, caso seja necessário prestar cuidados de emergência durante a longa viagem. Essa não é apenas uma caravana tunisina — integra pessoas de todo o Norte de África. Caso consigam prosseguir, é provável que recebam um apoio significativo no Egito, onde se espera que centenas mais se juntem em solidariedade.


Todos os que participam ou apoiam esta caravana fazem de forma voluntária, movidos por uma profunda crença na causa palestiniana. Carregam diariamente a dor e a tragédia dos seus irmãos e irmãs que têm enfrentado fome, bombardeamentos e genocídio ao longo de dois anos. A sua decisão foi a de defender a justiça e juntar-se ao movimento global em direção à passagem de Rafah, dizendo “Basta!” ao genocídio e respondendo a esse apelo internacional à ação.


Os participantes e apoiantes acreditam firmemente no potencial da caravana para provocar mudança. Veem nela como um passo para despertar consciências adormecidas na região, reacender a determinação e fortalecer a luta quotidiana contra a opressão sionista — com vista a levantar o cerco de forma definitiva.


O que alcançou a caravana até agora, mesmo antes de chegar à fronteira egípcia?

Nos últimos dois dias, a caravana percorreu mais de 1.500 quilómetros. Muitos perguntam pelas condições no terreno. Pode-se responder apontando para a longa história de solidariedade entre os povos. Muitas lições têm sido aprendidas sobre apoio mútuo e cooperação. Desde que entrou em território líbio, a caravana não teve de pagar combustível para os veículos nem custos de carregamento dos telemóveis (para acesso à internet e comunicação). A solidariedade tem sido avassaladora — tanto em termos materiais como morais — incluindo facilitação da deslocação.


Estes gestos mostram o quão artificiais são as fronteiras, e como os governos capitalistas falharam — submissos às potências coloniais e determinados a reprimir os seus próprios povos, chegando ao ponto de lhes negar o direito à livre circulação. Agora, tendo chegado às imediações de Benghazi, perto da fronteira com o Egito — e após a declaração do Ministério dos Negócios Estrangeiros egípcio há dois dias —, a caravana abrandou o ritmo.


Relatórios indicam que as autoridades egípcias mobilizaram reforços na fronteira com a Líbia para bloquear a caravana, exigindo que os participantes apresentem pedidos de visto antes de poderem avançar. Até ao momento, o regime de Abdel Fattah el-Sisi ainda não concedeu autorização à Caravana da Perseverança para atravessar a fronteira. Entretanto, o Estado egípcio deteve, interrogou e deportou vários ativistas estrangeiros que chegaram como parte da Marcha Global para Gaza. Isto não é mera má gestão administrativa — é uma estratégia de obstrução deliberada. No entanto, apesar do curto espaço de tempo, a caravana já ajudou a expor aquilo que os regimes árabes falharam em fazer ao longo de um ano e meio de assassinatos, fome e deslocamento em Gaza — pelo impacto e dinâmica que ajudou a gerar. Trata-se de um ato global de resistência, baseado em:


  • Expor a cumplicidade e traição dos regimes árabes;

  • Afirmar a necessidade de estimular a vontade revolucionária dos povos oprimidos;

  • Ultrapassar fronteiras como forma de resistência;

  • Apelar à mobilização das massas em todo o mundo para levantar o cerco e travar o genocídio;

  • Abrir novos horizontes para a luta e solidariedade internacionais.


 É um ato importante — uma prova de que os povos do Norte de África recusam manter-se em silêncio perante o genocídio. Pode ajudar a galvanizar o tipo de ação de massas, popular e transfronteiriça necessária para quebrar o cerco a Gaza. Na Tunísia, na Argélia e em todo o Magrebe, os sindicatos de trabalhadores e estudantes e os movimentos sociais devem aproveitar o momento para coordenar e intensificar ações nos seus próprios países.


Em toda a região, é urgente transformar a caravana em um ponto de partida para um movimento mais amplo, organizado e enraizado de solidariedade da classe trabalhadora e da juventude com a Palestina — um movimento que desafie o sionismo, o imperialismo e todos os regimes capitalistas árabes que os sustentam.

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