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Review: Adolescência por Jack Thorne e Stephen Graham

  • Manus Lenihan
  • May 6
  • 5 min read
Cena do primeiro episódio da mini série da netflix
Cena do primeiro episódio da mini série da netflix

Adolescência está se tornando uma das séries mais faladas do ano. Parte disso acontece por causa das performances e produção. Cada episódio se desenrola em tempo real, e em único take.


Mas o que realmente ressoa são os temas, especialmente masculinidade, misoginia e violência de gênero, as quais são de grande relevância em 2025. A série is set após um assassinato. Um garoto de 13 anos (Owen Cooper em uma estreia espetacular) é acusado de esfaquear uma garota da mesma idade até a morte.


Tais crimes não são tão raros quanto se espera; a ideia para a série veio de dois crimes reais similares na Grã-Bretanha. A audiência irlandesa será lembrada do assassinato horrível de Ana Kriégel de 14 anos em Lucan em 2018. Os garotos condenados por seu assassinato, como o acusado Jamie na série, tinham apenas 13 anos.


Isso acertou em cheio nos espectadores, principalmente os pais: e se você perdesse alguém que ama, não por se tornarem vítima de um assassinato, mas por ter cometido o crime?


Aos espectadores que trabalharam com ou próximos da educação, direito ou serviços sociais terão momentos desconfortáveis de déja-vu ao passo que a câmera percorre uma delegacia, uma escola e um “centro de treinamento” - na verdade, uma prisão.


Adolescência faz parte da poderosa tradição do realismo social britânico. O segundo episódio se passa inteiramente na escola em que a vítima e o autor do crime frequentavam.


A polícia a visita para encontrar a arma do crime. Mas encontram grande parte do motivo do crime apenas experienciando a vida escolar. Os professores gritam ordens e confiam demais em vídeos. Estudantes fazem bullying uns com os outros e são insensíveis e desdenhosos.


O crime nasceu nesta instituição subfinanciada, repleta de professores  sobrecarregados e esgotados demais para dar às crianças o cuidado e atenção necessários. Mas poderias ser argumentado que esse episódio é ilegítimo: até mesmo a escola mais privada de recursos entraria em choque imediatamente após o assassinato de um estudante.


A série traz ansiedade ao mostrar o quanto as Big Techs estão rastejando para dentro das mentes das crianças e como os “influenciadores” da  extrema-direita trabalham para tirar vantagem das inseguranças dos meninos. Tiktok, por exemplo, promove ativamente vídeos misóginos para garotos jovens na primeira vez que entram no aplicativo. Adolescência mostra a explosão da misoginia online nos últimos 10 anos.  Já na metade fica claro que a “machosfera” e a cultura “incel” alinharam muitas das peças do dominó para este assassinato.


No terceiro episódio, onde o acusado Jamie se senta com uma psicóloga, enfatiza como essa cultura prepara crianças em uma idade vulnerável. As revelações são feitas lentamente, mas com um impacto explosivo, como o papel do abuso baseado em imagens leva ao assassinato. 


Vemos como os pregadores de ódio online disseram a Jamie que ele é inútil, o que é deixado de lado na escola e em casa. Ele verdadeiramente acredita que nunca terá uma namorada ou fazer sexo a menos que recorra a manipulação e violência.


Quando a irmã de Jamie (Amélie Pease) o pergunta, em uma tentativa desesperada de fazer uma piada, se ele se tornará bodybuilder na prisão, sua resposta é um simples não. Isso é um  ponto dolorido: Jamie não é um garoto atlético, não é do tipo arrogante e fisicamente forte valorizado pelos papeis de gênero tradicionais.


Ele aprendeu a se odiar ao não corresponder às expectativas da sociedade em relação a meninos/homens, de acordo com o rígido binarismo de gênero promovido em todos os níveis da sociedade. Ele idolatra o pai, que superficialmente chega perto do estereótipo de homem de verdade.


Muitas de nossas expectativas são frustradas. O acusado não é um psicopata, mas uma criança que pode se tornar atrevido, lamentável ou aterrorizante.


Assim assumimos que deve ter algum segredo obscuro na vida de Jamie em casa, mas seu pai Eddie (Stephen Graham, também o co-roteirista) vem a ser uma pessoa decente.


Sentimos por ele intensamente ao ver a polícia subjugar sua casa a uma invasão aterrorizante minutos depois que ele retorna para casa depois de um turno da noite; quando ele protesta corajosamente ao seu filho sendo revistado em sua frente; ao passo que as evidências aparecem e ele foge da mão estendida de seu filho.


Eddie está sobrecarregado no trabalho e ele e sua esposa (Christine Tremarco) perderam o contato com a vida emocional de seu filho, mas não são abusivos ou negligentes. Eddie apanhava de seu pai e tentou quebrar o ciclo abusivo. No entanto, os papeis de gênero patriarcal são evidentes na família com consequências negativas.


Jamie tem uma memória formativa de seu pai incapaz de olhar em seus olhos quando falha em uma partida de futebol, e outra de seu pai derrubando um galpão em um acesso de raiva. Ainda assim, a violência misógina chocante de Jamie não pode ser explicada sem olhar para a cultura.


Eddie não é santo e as falhas do personagem são claras ao final do episódio, mostrando como seu temperamento e emoções são cuidadosamente gerenciadas pela mãe e pela filha.


Enquanto seu temperamento não era direcionado a elas, a ameaça de agressividade paira no ar, pois é como Eddie aprendeu a lidar e as consequências disso são sentidas pelas mulheres e crianças em particular.


É verdade, como o co-roteirista da série Jack publicamente demonstrou, que crianças são particularmente vulneráveis a ter suas vidas destruídas por causa de comunidades online. Mas vale a pena ter em mente que pessoas de todas as idades fazem coisas irresponsáveis e perigosas nas redes sociais.


Esses adultos que agridem verbalmente estranhos, repetem mentiras óbvias e compartilham imagens falsas não têm direito de repreender os adolescentes. Obviamente, o sexismo assassino já ceifava a vida de mulheres e meninas muito antes da internet.


Comunidades online podem ser saudáveis e positivas para vários jovens. O problema não é a existência das redes sociais, mas que são privadas e administradas com fins lucrativos. Elas são projetadas para explorar nossa necessidade de conexão, "maximizando o engajamento" ao nos bombardear com conteúdo criado para nos fazer sentir como Jamie, inúteis, com medo e ressentidos.


Uma regulamentação mais rigorosa das mídias sociais seria positiva, especialmente em relação às crianças, mas a apropriação pública desse espaço público é o que realmente precisamos discutir. Enquanto isso, os adultos precisam olhar e ouvir os jovens em suas vidas. A sol



idariedade em nossas comunidades, os laços fortes entre as gerações e a esperança em um futuro coletivo mais promissor podem reparar as lacunas profundas na cultura capitalista, onde prosperam os grupos misóginos online.


O co-roteirista de Adolescência, Jack Thorne, diz que, quando falou sobre a série em um vídeo online, a seção de comentários estava lotada de homens estranhos especulando sobre seus níveis de testosterona e estrogênio – um nível de pura estranheza que lembra o teórico da conspiração "RedPill” (da pílula vermelha) que aborda Eddie na loja de materiais de construção no episódio final.


Esse é apenas mais um exemplo de como as emoções e os elementos comoventes desta história, embora apresentados aqui no contexto de um caso de assassinato particularmente horrível, são disseminados em nossa sociedade e cultura.

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